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Metástases no cérebro acabam por acometer 30 a 40% dos doentes com o diagnóstico de câncer. Cerca de um terço desses necessitam tratamento cirúrgico. Graças a um tratamento cada vez mais eficaz do câncer de maneira geral e a um aumento da idade média da população (expectativa de vida maior), temos observado aumento da incidência de metástases cerebrais. Em geral acomete doentes entre a 5ª e 7ª décadas de vida. Os cânceres que mais comumente metastatizam para o cérebro são pulmão, mama, melanoma e rim, nessa ordem. Mais frequentemente, tumores alcançam a corrente sanguínea por enzimas digestoras que secretam em seu sítio de origem, e a partir da corrente sanguínea atingem o cérebro, onde passam a crescer secundariamente. Menos frequentemente, há disseminação pelo líquor (líquido que circunda o cérebro e a medula).
Graças a um tratamento multi-disciplinar, pacientes com metástases cerebrais têm vivido cada vez mais e com excelente qualidade de vida. De fato, em alguns tipos de câncer, mesmo doentes com metástases múltiplas ainda apresentam chance de cura de seus tumores.
A cirurgia visa o controle local da doença metastática. Via de regra, visa-se a ressecção completa da lesão, poupando-se as áreas cerebrais “críticas”, cuja perda de função não possa ser suplantada pelas regiões vizinhas. Para se alcançar esse objetivo, qual seja, ressecção completa com preservação de todas as funções cerebrais, muitas vezes lança-se mão de recursos avançados de imagem do cérebro, vias de conexão, bem como mapeamento de funções cerebrais, antes e durante a cirurgia. Adicionalmente, determinados recursos como ultrassonografia intra-operatória e ressonância magnética intra-operatória podem auxiliar na realização de uma cirurgia segura e eficaz. A cirurgia traz consigo as vantagens de se obter tecido tumoral para análise patológica e molecular (vide abaixo), e de se aliviar os sintomas decorrentes de pressão aumentada no compartimento craniano.
Algumas lesões estão localizadas em áreas cerebrais ditas “críticas”, cuja perda não pode ser suplantada por outras áreas, ou áreas profundas e nobres como o “tronco encefálico”, responsável por nossa vigilância e controle das funções vitais (pressão, respiração, entre outras). Nesses casos, lança-se mão da Radiocirurgia, que nada mais é que a irradiação com altas doses em sessão única, alvejando-se áreas bem restritas do cérebro com uma precisão sub-milimétrica, poupando-se as áreas vizinhas à lesão. Nesse tipo de tratamento, não é necessária incisão da pele; o procedimento é feito sem necessidade de anestesia, num tratamento ambulatorial, com mínimos riscos. Está mais indicado para lesões menores que 3cm de diâmetro, naquelas inalcançáveis do ponto de vista cirúrgico (onde a cirurgia traria altos riscos), ou em casos de pacientes com múltiplas doenças, para os quais o risco cirúrgico estimado é muito alto. O tratamento baseia-se na aplicação de uma dose de 18Gy nas margens da lesão. O tumor permanece a princípio inalterado (do ponto de vista de sua apresentação nos exames de imagem), mas com o tempo, os efeitos da irradiação levam à parada do crescimento ou redução das dimensões da lesão. Adicionalmente, foi demonstrado que a radiocirurgia do leito de ressecção de uma metástase cerebral única, complementarmente à cirurgia, melhora o controle da doença.
Em muitas ocasiões, a ressecção ou a cirurgia não são suficientes para se prevenir o aparecimento de uma outra lesão metastática em outra região do cérebro. Ademais, vale notar que, no momento do diagnóstico de uma metástase cerebral por tomografia ou ressonância da cabeça, pode estar presente uma outra lesão, diminuta, que os exames de imagem convencionais não são capazes de diagnosticar. Em vista dessas ponderações, muitas vezes faz-se necessária a complementação do tratamento por meio da irradiação do cérebro (dita radioterapia de cérebro total). Esse tratamento é feito em algumas sessões, onde se aplica de 3 a 5,5Gy de radiação ao todo. Um dos efeitos colaterais da irradiação, no longo prazo, é a dificuldade de memória. No entanto, modernas técnicas de irradiação disponíveis nos melhores centros permitem se poupar as áreas cerebrais mais relevantes para a memória (chamados hipocampos).
Mencionamos acima que a metastatização para o cérebro decorre na maioria das vezes de uma disseminação do tumor pela corrente sanguínea. Portanto, faz-se crucial para o sucesso do tratamento o controle sistêmico do tumor, extirpando-se, quando possível, o tumor primário, ou tratando-se possíveis células tumorais que tenham alcançado a corrente sanguínea por meio de quimioterapia. Existem diversos regimes de quimioterapia para os mais variados tipos de câncer, sejam isoladamente ou em combinação, sejam oral ou endovenosa. Em raras situações, também pode-se aplicar quimioterápico diretamente no líquido que banha o cérebro (quimioterapia intratecal). Os quimioterápicos visam matar as células que se dividem rapidamente no corpo (e que são em última instância as células tumorais). Para isso, agem das mais variadas formas: 1. Quebram o DNA da célula (seu material genético), impedindo a multiplicação celular- são os ditos agentes alquilantes; 2- bloqueiam determinados receptores na superfície da célula, impedindo a sinalização que leva a célula a se multiplicar, 3- impedem a multiplicação dos vasos sanguíneos e assim bloqueiam o suprimento de sangue do tumor, etc. No entanto, não são somente as células tumorais que se dividem rapidamente no nosso corpo, mas também as células sanguíneas, as células do intestino, e as das raízes dos cabelos. Por esse motivo, alguns regimes de quimioterapia apresentam como efeitos colaterais esperados a queda de cabelo, náuseas/vômitos e anemia, ou queda de glóbulos brancos. Nem sempre, no entanto esses efeitos são esperados. Isso depende do tipo de tratamento escolhido e do grau de tolerância do indivíduo. Protocolos modernos de quimioterapia levam em consideração os tipos de alterações estruturais nas células tumorais (alterações biomoleculares) para se escolher os quimioterápicos presumivelmente mais eficazes (a chamada terapia-alvo). Essa análise biomolecular é feita por meio de sequenciamento genético, em centros de referência em Oncologia, e constituem importante ferramenta para orientar o tratamento oncológico.
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